sábado, 17 de dezembro de 2011

beirando

Você está vendo só?
tão simples cair na vida de alguém
mesmo que seja de mansinho,
de pouquinho em pouquinho
até nos encontrarmos inteiros,
mergulhados, envolvidos,
na vida do outro


passa mais perto,
passa beirando meu abismo,
anda sobre a linha que nos divide,
é um risco assumido,
mas é o caminho que se percorre
para de leve, muito leve,
entrar na minha vida.

Cáh Morandi (retirado daqui)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Adele acompanhando minhas noites.


Next time I'll be braver
I'll be my own savior
When the thunder calls for me
Next time I'll be braver
I'll be my own savior
Standing on my own two feet

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores.


Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei, não tem ninguém ao lado.

sábado, 5 de novembro de 2011

Lembro de ter lido em algum lugar qualquer.

Os sentimentos que ultrapassam os oceanos me fazem querer pegar o telefone e chorar todos os litros acumulados de saudades que aqui moram e se alimentam. A vontade mesmo era de ouvir do outro lado da linha: "Se acalme, estou pegando o próximo avião pra te ver."

quinta-feira, 3 de novembro de 2011


A um ausente


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.


Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?


Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.


Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 1 de outubro de 2011

Dois meses longe do Brasil. Dois meses longe de todas as coisas e de todas as pessoas que sempre fizeram a minha vida ser única. Dois meses longe daquelas noites poaenses cheias de risadas, cores e sons. Dois meses sem um abraço de mãe, de pai e de tia. Um sentimento nunca existente na minha vida, não sabia que a saudade podia doer tanto, porque além dela ainda existe a sensação que a vida continua sem você, tudo continua acontecendo exatamente como antes e a sua presença não parece ser tão importante. O egoísmo chega a ser tão grande que se eu tivesse o poder de parar o tempo eu o faria com certeza. Esperem por mim, não se mexam, não falem e não vivam enquanto eu não voltar! Mas não é assim. É um buraco que vai sempre existir, um buraco aqui preenchido com muitas pessoas novas, muitos desafios e muitas experiências. Um buraco lá preenchido... espera, lá não existe um buraco. A vida brasileira continuou. Fui eu quem a deixou. 
Mas não pense que esse texto terminará assim, triste. E eu te digo o porquê.
A ausência dessa vida que sempre me fez tão feliz é preenchida por sentimentos inéditos e maravilhosos, por momentos únicos e pessoas que serão inesquecíveis. Se eu tivesse que voltar agora eu poderia dizer "Fui feliz, valeu a pena, fiz tudo o que queria fazer." São dois meses que parecem mais uma vida, daquela cheia de descobertas pessoais. Quem diria Jaqueline, quem diria. Essa sua vida paralela está cheia de alegrias: alegria em entender quando alguém fala em árabe com você na rua, alegria em assistir seriado e comer porcarias com a amiga, alegria em conhecer lugares tão incríveis, alegria em tomar café que o namorado fez especialmente pra você, alegria em conhecer pessoas de todo o mundo, alegria em receber flores, fofocar antes de dormir... alegrias.

Nunca estive tão triste e ao mesmo tempo tão feliz em toda a minha vida.

domingo, 31 de julho de 2011

Meus olhos gulosos não sabem se choram ou se esgueiram a próxima esquina. Meu coração não sabe se bate ao som das turbinas do avião ou se cessa o batimento pela falta que tanta gente me faz. Meus pés ora correm, ora titubeiam, ora pensam em voltar. Minhas mãos tocam os objetos pela última vez, as pessoas pela última vez. Meu corpo quer ir, meu coração quer ficar e meu cérebro ainda não se decidiu.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Futuros amantes - Chico Buarque

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

terça-feira, 10 de maio de 2011

Carta a uma senhorita em Paris - Júlio Cortázar

[...] Mas fiz as malas, avisei sua criada que viria me instalar aqui, e subi de elevador. Precisamente entre o primeiro e o segundo andar, senti que ia vomitar um coelhinho. Nunca lhe contara antes, não pense, porém, que por deslealdade, mas naturalmente a gente não vai ficar explicando aos outros que, de quando em quando, vomita um coelhinho. Como isto me sucedia estando só, escondia o fato como se escondem tantos detalhes do que acontece (ou a gente faz acontecer) na intimidade total. Não me censure, Andrée, não me censure. De quando em quando me acontece vomitar um coelhinho. Não é razão para não viver em qualquer casa, não é razão para que a gente deva se envergonhar e estar isolado e andar se calando.
Quando sinto que vou vomitar um coelhinho, ponho dois dedos na boca como uma pinça aberta, e espero sentir na garganta a penugem morna que sobe como uma efervescência de sal de frutas. Tudo é rápido e higiênico, transcorre em um brevíssimo instante. Tiro os dedos da boca, e neles trago preso pelas orelhas um coelhinho branco. O coelhinho parece contente, é um coelhinho normal e perfeito, só que muito pequeno, pequeno como um coelhinho de chocolate, mas branco e completamente um coelhinho. Ponho-o na palma da mão, levanto sua penugem com uma carícia dos dedos, o coelho parece satisfeito de haver nascido e bole e esfrega o focinho na minha pele, movimentando-o com essa trituração silenciosa e cosquenta do focinho de um coelho contra a pele de uma mão. Procura comer, e eu (falo de quando isto acontecia em minha casa de campo) o levo comigo à varanda e ponho-o no grande vaso onde cresce o trevo que plantei para esse fim. O coelhinho levanta bem suas orelhas, envolve o trevo novo com um veloz molinete do focinho, e eu sei que posso deixá-lo e ir embora, continuar por algum tempo uma vida não diferente da de tantos que compram seus coelhos nas granjas. [...]

terça-feira, 29 de março de 2011

Da série "Rascunhos" - Escrito em 08/07/09

(e da série "não sei fazer poemas, mas whatever...")

Tinha o dom de se fazer sorrir
Simples, diria um descritor qualquer
Tinha alma de menino,
daqueles que a mãe quer sempre agarrado na barra da saia.
Menino?
Criatura crescida por meios mundanos,
meninice deixada pras horas vagas.



Diz-se do preto ser a ausência de cor,
talvez a esperança do toque da aquarela da vida.
Energia dissipada em vinte e quatro horas,
carrega, descarrega, descarrega, descarrega,
carrega.
Torna a descarregar.



Tinha um meio sorriso, impensado,
daqueles que mostram a essência da alma,
daqueles que acendem um aviso na mente
das mulheres: "Cuidado!".
Sorriso impregnado de suspiros alheios.



Era um romântico, um sobrevivente entre
os homens de terno e flores compradas.
Ares de conquistador, faces de galanteio.
Se queres saber, restos do tal cavalheiro.



Tinha tanto a mostrar que entala, fica preso.
Sai aquilo que nos convém, limitado e censurado.
Goteja, despeja...deixa vazar o que sente.



Trajes superficiais de um ser atencioso.
Caixinha de surpresas, chapéu de mágico.



Era uma figurinha, daquelas que brilham no escuro.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011