Como se fôssemos vinte impossibilidades
Em Lydda, em Ramla, na Galileia
Aqui ficaremos
Como tijolos sobre os vossos peitos
Como lascas de vidro nas vossas gargantas
Como espinhos de um cacto nos vossos olhos
Como uma tempestade de fogo.
Aqui ficaremos
Como um muro sobre os vossos peitos
Lavando preguiçosamente os pratos, no ruído dos bares
Servindo bebidas aos nossos senhores
Esfregando o chão das cozinhas enegrecidas
Para arrancar dos vossos dentes azuis
Uma côdea para os nossos filhos.
Aqui ficaremos
Como um pesado muro sobre os vossos peitos
Nós famintos
Que não temos que vestir
Nós vos desafiamos.
Cantamos as nossas canções
Percorremos as ruas violentas com as nossas manifestações de raiva
Enchemos as prisões com dignidade e orgulho
Continuamos a ter filhos
Uma geração revolucionária
Depois de outra
Como se fôssemos vinte impossibilidades
Em Lydda, em Ramla, na Galileia!
Aqui ficaremos
Façam-nos o pior
Nós guardamos a sombra
Da oliveira e da figueira
Nós semeamos as ideias
Qual fermento na massa
Os nossos nervos estão enregelados
Mas o fogo do inferno aquece os nossos corações.
Se tivermos sede
Espremeremos as rochas
Se tivermos fome
Comeremos a terra
Mas nunca partiremos.
O nosso sangue é puro
Mas não o pouparemos.
Aqui temos o nosso passado
O nosso presente
E o nosso futuro
O nosso futuro está atrás de nós.
Como se fôssemos vinte impossibilidades
Em Lydda, em Ramla, na Galileia
Ó raízes vivas agarrem-se firmemente
E penetrem no fundo da terra.
É melhor para o opressor
Refazer as suas contas
Antes que a roda desande
“Para cada acção há uma reacção” – ouçam
O que diz o Livro.
Tawfiq Zayyad (1929 - 1994), poeta palestino.
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