sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Lembrando de "Por que ler os clássicos" do Calvino

ROMEU — (a Julieta) – Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio, peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência.

JULIETA — Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos pega o paladino. Esse é o beijo mais santo e conveniente.

ROMEU — Os santos e os devotos não têm boca?

JULIETA — Sim, peregrino, só para orações.

ROMEU — Deixai, então, ó santa! que esta boca mostre o caminho certo aos corações.

JULIETA — Sem se mexer, o santo exalça o voto.

ROMEU — Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados. (Beija-a.)

JULIETA — Que passaram, assim, para meus lábios.

ROMEU — Pecados meus? Oh! Quero-os retornados. Devolve-mos.