segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Aqui ficaremos

Como se fôssemos vinte impossibilidades

Em Lydda, em Ramla, na Galileia

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Aqui ficaremos

Como tijolos sobre os vossos peitos

Como lascas de vidro nas vossas gargantas

Como espinhos de um cacto nos vossos olhos

Como uma tempestade de fogo.

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Aqui ficaremos

Como um muro sobre os vossos peitos

Lavando preguiçosamente os pratos, no ruído dos bares

Servindo bebidas aos nossos senhores

Esfregando o chão das cozinhas enegrecidas

Para arrancar dos vossos dentes azuis

Uma côdea para os nossos filhos.

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Aqui ficaremos

Como um pesado muro sobre os vossos peitos

Nós famintos

Que não temos que vestir

Nós vos desafiamos.

Cantamos as nossas canções

Percorremos as ruas violentas com as nossas manifestações de raiva

Enchemos as prisões com dignidade e orgulho

Continuamos a ter filhos

Uma geração revolucionária

Depois de outra

Como se fôssemos vinte impossibilidades

Em Lydda, em Ramla, na Galileia!

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Aqui ficaremos

Façam-nos o pior

Nós guardamos a sombra

Da oliveira e da figueira

Nós semeamos as ideias

Qual fermento na massa

Os nossos nervos estão enregelados

Mas o fogo do inferno aquece os nossos corações.

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Se tivermos sede

Espremeremos as rochas

Se tivermos fome

Comeremos a terra

Mas nunca partiremos.

O nosso sangue é puro

Mas não o pouparemos.

Aqui temos o nosso passado

O nosso presente

E o nosso futuro

O nosso futuro está atrás de nós.

Como se fôssemos vinte impossibilidades

Em Lydda, em Ramla, na Galileia

Ó raízes vivas agarrem-se firmemente

E penetrem no fundo da terra.

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É melhor para o opressor

Refazer as suas contas

Antes que a roda desande

“Para cada acção há uma reacção” – ouçam

O que diz o Livro.


Tawfiq Zayyad (1929 - 1994), poeta palestino.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

We will stay in our land.

Meninas palestinas protestam com cartazes contra ação de colonos judeus que incendiou uma escola na região de Alsawya, próxima a Naplusa, na Cisjordânia.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Bensé - Au Grand Jamais

Os cus de Judas - António Lobo Antunes

"Esperavas-me, Sofia, e nunca houve entre nós quaisquer palavras, porque tu entendias a minha angústia de homem, a minha angústia carregada de ódio de homem só, a indignação que a minha cobardia provocava em mim, a minha submissa aceitação da violência e da guerra que os senhores de Lisboa me impuseram, entendias as minhas desesperadas carícias e a ternura medrosa que te dava, e os teus braços desciam-me lentamente ao longo das costas, sem zanga nem sarcasmo, subiam e desciam lentamente ao longo do suor gelado dos meus flancos, apertavam-me devagar a cabeça contra o teu ombro redondo, e eu tinha a certeza, Sofia, que sorrias no escuro o calado e misterioso riso das mulheres quando os homens se tornam de súbito meninos e se lhes entregam como filhos desprotegidos e frágeis, exaustos de lutarem dentro de si mesmos contra o que de si mesmos os revolta."