sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Os cus de Judas - António Lobo Antunes

"Esperavas-me, Sofia, e nunca houve entre nós quaisquer palavras, porque tu entendias a minha angústia de homem, a minha angústia carregada de ódio de homem só, a indignação que a minha cobardia provocava em mim, a minha submissa aceitação da violência e da guerra que os senhores de Lisboa me impuseram, entendias as minhas desesperadas carícias e a ternura medrosa que te dava, e os teus braços desciam-me lentamente ao longo das costas, sem zanga nem sarcasmo, subiam e desciam lentamente ao longo do suor gelado dos meus flancos, apertavam-me devagar a cabeça contra o teu ombro redondo, e eu tinha a certeza, Sofia, que sorrias no escuro o calado e misterioso riso das mulheres quando os homens se tornam de súbito meninos e se lhes entregam como filhos desprotegidos e frágeis, exaustos de lutarem dentro de si mesmos contra o que de si mesmos os revolta."

Um comentário:

âmala disse...

Olha o que esse cara escreveu! Meu deus do céu! Obrigada por ter me dado a chance de ter lido essa passagem que é linda e linda também é você por ser sensível o bastante pra perceber a beleza dela. Super beijo!